segunda-feira, 8 de janeiro de 2007

Um grande saco de lixo. Não, um imenso saco de lixo. Do tamanho do céu e o mar, e a chuva que faz tudo água e emenda os dois num cinza infinito. Um saco gigante, onde caibam todas as angústias, frustrações, decepções; o desequilíbrio e os rompantes, os nós na garganta, os meios interrompidos por fins intrometidos; e a melancolia que não sai de mim, não sai de mim, não sai. E toda essa profundidade que não leva a lugar algum, esses limites-tijolos que construíram um muro em volta. O medo e a vergonha que impedem de cantar.

Uma nave espacial. Um foguete pra levar todo esse lixo cósmico pra algum lugar bem distante, do outro lado do universo. Imprescindível que seja completamente destruído devido à alta toxicidade. Uma grande explosão. Uma bomba atômica do outro lado do universo, na galáxia mais distante, pra reduzir o lixo a pedacinhos tão pequenos que virem poeira estelar.

E luz. Seja sol, seja lua. Estrela, lanterna ou vagalume. Deixa pra lá o escuro da sombra, do buraco; a solitude de ser só e ser eu, e ser só eu. E nós, a gente, todo mundo. E cores. Todas elas. Larga esse monocromatismo, esse preto e branco que impede de ser um pouco arco-íris às vezes, por quê não? E vento. Tudo que há de leve, que voe, flutue. Vestidos coloridos e rodados. E música. Todas que possam ser acompanhadas por suaves balanços de cabeça e batidinhas de pé, e vestidos coloridos rodando. E mansidão. Fala devagarinho, baixinho, e sorri. Delicadeza, harmonia, fluidez. Tudo assim, macio. Uma montanha de algodão, um sorvete de creme, uma bossa.

E poesia. Em tudo. Na luz, na gente, nas cores, no vento. E os abraços hão de ser milhões de abraços, apertado assim, colado assim, calado assim. Abraços e beijinhos e carinhos sem ter fim.