Pelo não-entendimento
Esses mundos de poetas me frustam. Talvez porque não os entenda, talvez porque os inveje. Talvez os inveje por não entendê-los. Não entender algo ou alguém é decepcionante pra mim, uma afronta à minha inteligência. Aí vêm os poetas e pronto, me sinto a mais estúpida das criaturas.
Às vezes tento me consolar pensando que sou mais prosa, mais racional, pé no chão, e por isso não compreendo esses seres confusos, divagantes, que nem mesmo sabem do que falam. E um dia, folheando uma revista qualquer no cabeleireiro, encontro um poema. Olho ressabiada, ameaço virar a página. Afinal, nem gosto de poesia mesmo. Mas aquela estranha forma, tão disforme, cola meus dedos à orelha da folha e não consigo. Apesar do receio de uma provável frustração, me vejo obrigada a decodificá-la, tentar interpretá-la e, porque não, senti-la. E então, o improvável acontece: de alguma maneira aquele emaranhado de palavras faz algum sentido, concordo com o que foi dito, eu mesma poderia ter escrito. A desilusão é maior, eu gosto de poesia. O único motivo para parecer não entender é pura incompetência. Ou pior: insensibilidade.
Não admito. Não sou insensível. O problema está nas mãos de vocês, não nos meus olhos. Não tenho culpa se sou direta, objetiva, por vezes exata. Esses poetas é que são uns dissimulados, fazendo rodeios, perdendo o sentido - ou guardando só para eles. Eu quero ler, ouvir, ver e entender tudo isso, encontrar um sentido, um motivo, uma razão...
Talvez seja esse o maior dos meus erros, comparar sentido à razão, acreditar tanto nos dicionários. Razão é certa, justa, prudente. Sentido se sente, vem antes da razão, é maior que ela, independente, não se prende a padrões. Para sentir, não é necessário esforço, é inevitável, incontrolável.
E então, o dicionário redime-se de seu erro: Inefável.