Pelo não-entendimento
Esses mundos de poetas me frustam. Talvez porque não os entenda, talvez porque os inveje. Talvez os inveje por não entendê-los. Não entender algo ou alguém é decepcionante pra mim, uma afronta à minha inteligência. Aí vêm os poetas e pronto, me sinto a mais estúpida das criaturas.
Às vezes tento me consolar pensando que sou mais prosa, mais racional, pé no chão, e por isso não compreendo esses seres confusos, divagantes, que nem mesmo sabem do que falam. E um dia, folheando uma revista qualquer no cabeleireiro, encontro um poema. Olho ressabiada, ameaço virar a página. Afinal, nem gosto de poesia mesmo. Mas aquela estranha forma, tão disforme, cola meus dedos à orelha da folha e não consigo. Apesar do receio de uma provável frustração, me vejo obrigada a decodificá-la, tentar interpretá-la e, porque não, senti-la. E então, o improvável acontece: de alguma maneira aquele emaranhado de palavras faz algum sentido, concordo com o que foi dito, eu mesma poderia ter escrito. A desilusão é maior, eu gosto de poesia. O único motivo para parecer não entender é pura incompetência. Ou pior: insensibilidade.
Não admito. Não sou insensível. O problema está nas mãos de vocês, não nos meus olhos. Não tenho culpa se sou direta, objetiva, por vezes exata. Esses poetas é que são uns dissimulados, fazendo rodeios, perdendo o sentido - ou guardando só para eles. Eu quero ler, ouvir, ver e entender tudo isso, encontrar um sentido, um motivo, uma razão...
Talvez seja esse o maior dos meus erros, comparar sentido à razão, acreditar tanto nos dicionários. Razão é certa, justa, prudente. Sentido se sente, vem antes da razão, é maior que ela, independente, não se prende a padrões. Para sentir, não é necessário esforço, é inevitável, incontrolável.
E então, o dicionário redime-se de seu erro: Inefável.
terça-feira, 19 de setembro de 2006
sábado, 9 de setembro de 2006
segunda-feira, 4 de setembro de 2006
Eu vivo de uns pequenos medos. Medo do papel em branco e o texto esperando pra ser começado. Medo de tentar e errar, e de não tentar e arrepender. Mas também de conseguir e não saber o que fazer depois. Medo de ser comum, e o medo de parecer diferente demais. Medo de falar na hora errada, e medo de não falar na hora certa. Medo de deixar pra depois e medo de ser precipitada. Medo de ser careta e ousada. Medo de me expor, e de ser esquecida. Medo de pensar demais e ficar louca, e medo de pensar de menos e ficar burra. Medo de me apaixonar, e medo de apaixonar alguém. Medo de ser eternamente-responsável-pelo-que-cativas. Medo de morrer de câncer, e de morrer atravessando a rua. Medo de sentar numa mesa de semi-conhecidos, e de falar besteira e parecer entendiante. Medo de ficar pobre e virar doméstica, e medo de ficar rica e ser seqüestrada. Medo de ser dura demais e magoar, e medo de ser complacente e não alertar.
Tenho medo de mim. Um medo de ser que vai construindo com recortes, fragmentos alheios, uma semi-personalidade que tem medo de parecer montada. Um narciso que tem medo do espelho. Mas medo, acima de tudo, de ser repetitiva. Uns medos que, vez ou outra, não parecem tão pequenos assim.
Tenho medo de mim. Um medo de ser que vai construindo com recortes, fragmentos alheios, uma semi-personalidade que tem medo de parecer montada. Um narciso que tem medo do espelho. Mas medo, acima de tudo, de ser repetitiva. Uns medos que, vez ou outra, não parecem tão pequenos assim.
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