Eu vivo de uns pequenos medos. Medo do papel em branco e o texto esperando pra ser começado. Medo de tentar e errar, e de não tentar e arrepender. Mas também de conseguir e não saber o que fazer depois. Medo de ser comum, e o medo de parecer diferente demais. Medo de falar na hora errada, e medo de não falar na hora certa. Medo de deixar pra depois e medo de ser precipitada. Medo de ser careta e ousada. Medo de me expor, e de ser esquecida. Medo de pensar demais e ficar louca, e medo de pensar de menos e ficar burra. Medo de me apaixonar, e medo de apaixonar alguém. Medo de ser eternamente-responsável-pelo-que-cativas. Medo de morrer de câncer, e de morrer atravessando a rua. Medo de sentar numa mesa de semi-conhecidos, e de falar besteira e parecer entendiante. Medo de ficar pobre e virar doméstica, e medo de ficar rica e ser seqüestrada. Medo de ser dura demais e magoar, e medo de ser complacente e não alertar.
Tenho medo de mim. Um medo de ser que vai construindo com recortes, fragmentos alheios, uma semi-personalidade que tem medo de parecer montada. Um narciso que tem medo do espelho. Mas medo, acima de tudo, de ser repetitiva. Uns medos que, vez ou outra, não parecem tão pequenos assim.