quinta-feira, 31 de agosto de 2006

Produção em série

Tenho andado altamente irritável e, conseqüentemente, irritada ultimamente. E num top 10 de coisas que têm me incomodado, a falta de personalidade ocupa o primeiro lugar.

É claro que ninguém é totalmente original. Diria até que ser original é impossível, se forem levadas em consideração as 6 bilhões de pessoas que habitam esse planeta. Todos nós somos influenciados por inúmeras coisas e pessoas. TV, cinema, música, internet, família, amigos, tudo tem influência sobre nossa maneira de pensar, falar, vestir. Tenta – e muitas vezes consegue - nos manipular de alguma forma, fazer com que sigamos um determinado caminho.

O problema começa quando alguém simplesmente abdica da própria personalidade pra se encaixar num molde. Todo mundo quer ser cool, moderno, in. Pra isso, começa então a tentar preencher os quesitos que faltam pra ser isso ou aquilo. O corte de cabelo, a roupa, o jeito de andar e de tossir têm que seguir fielmente o que foi pré-estabelecido. Na cartilha constam também as músicas que se deve ouvir, juntamente com os filmes e livros que precisam ser vistos e lidos, não pra que você tenha uma opinião a respeito, mas só pra poder dizer que viu e leu. Os lugares que têm que ser freqüentados, as pessoas que você deve conhecer, suas opiniões e opção sexual devem condizer com o que a estampa da sua camiseta pressupõe que você seja. Webcelebridades fazendo caras e bocas em inúmeros auto-retratos, profiles lotados de números, massagem tailandesa no ego. Uma grande produção em série: você sobe na esteira e espera que alguém tenha a bondade de te pôr numa embalagem que seja igual a do resto.

Fazer parte de um grupo com que nos identifiquemos é absolutamente normal, humanos são assim. Queremos estar com pessoas parecidas com a gente, que tenham idéias em comum, que nos entendam de alguma maneira. Afinal, é assim que escolhemos nossos amigos. Mas isso é diferente de querer pertencer a uma seita, em que não haja necessidade de pensar. As idéias já vêm todas prontas. É só decorar o livrinho e pronto. Essa bestificação em massa me deixa doente. Ver aquela série de playmobils enfileirados é, no mínimo, deprimente. É quando a incansável busca por ser diferente surte o efeito contrário, todo mundo fica igual.

Nunca me preocupei muito com esse tipo de coisa. Pintou o cabelo de roxo e fez mechas verdes, tá usando camisa havaiana, anda de sobretudo no verão? Legal, continue se isso te faz feliz. Mas perceber que é só pra chamar a atenção, chocar, causar, é triste. Principalmente quando é visto de perto, com pessoas tão próximas.

Posso estar sendo hipócrita (e provavelmente estou), mas tudo isso tem me dado náuseas ultimamente, e eu precisava vomitar de alguma forma. E quanto a mim, bom, eu quero mais é ser normal.