quarta-feira, 4 de agosto de 2010

"Anoitecia. Ananta ficou parada, olhando o céu de um suave azul arroxeado. Sem vento. No ar, o perfume de Cordélia que fazia pensar num tufo de folhagem, ela gostava de perfumes como a mãe. E tinha o mesmo jeito derramado de agradecer e agradecer e agradecer - o quê? Poderia dizer-lhe em troca que ela, sim, agradecia o instante em que descobrira de repente no cabelo andrógino e no belo peito tatuado uma outra espécie de vida que era alegre e transitória e vã.

O vestíbulo estava escuro. Acendeu a luz e pensou que poderia colocar ali uma lâmpada de mil velas e a luz (verdadeira) ficara com a moça do dragão tatuado que estava neste mundo a passeio, apenas isso. E contente porque cumpria sua vocação."

As Horas Nuas. Lygia Fagundes Telles.


Às vezes queria ser mais Cordélia, menos Ananta.