segunda-feira, 31 de maio de 2010

Epifanias

No fim da tarde de uma sexta-feira qualquer, caminhando pela rua, passo em frente a uma loja de roupas usadas - esses lugares incríveis onde convivem aquilo que é considerado vintage e o que permanece antiquado - e decido entrar. Uma casa antiga nos fundos, abarrotada de casacos e calças talvez mais velhos que eu mesma, cheios de história. Enquanto vasculho por entre as araras, respirando a naftalina dos pesados casacos de inverno, ouço uma voz feminina que vem do fundo da casa, uma voz bonita que canta "London, London". Então, surge uma senhora naquilo que seria a sala e vai embora, acompanhada por seu cãozinho, a quem ela chama de menino.

No dia seguinte, em mais um fim da tarde, dirijo em direção ao shopping fazendo o mesmo velho trajeto de sempre. Quando paro no sinal vermelho de um dos vários semáforos do caminho, levantos os olhos e vejo o céu mais bonito da minha vida. Nuvens fragmentadas que se assemelhavam a escamas eram tingidas pelo sol, que emanava um tom coral vivo, quase fluorescente. Abro a bolsa rapidamente buscando o telefone celular pra registrar a cena antes que abra o sinal, mas percebo que esqueci o aparelho em casa. Entendo que alguns momentos, por nos terem sido dados de presente, talvez não devam ser compartilhados. O sinal fica verde, sigo dirigindo pela mesma avenida e o céu parece se movimentar junto comigo, tornando-se ainda mais grandioso. Chego ao meu destino e quando, finalmente, encontro uma vaga para estacionar, me dou conta de que as nuvens-escama coloridas pelo sol se foram, dando lugar a um céu cinza-azulado que nada tinha a dizer.

Momentos aparentemente insignificantes, mas que, se contemplados por alguns segundos, expandem de beleza.