segunda-feira, 12 de abril de 2010

As cidades visíveis

Voltar ao lugar em que nasci e passei os primeiros 11 anos da minha vida me deixava um pouco receosa. Já há quase uma década não revia aquelas ruas e pessoas e pensava que talvez preferisse manter na memória a imagem que guardava de vários anos atrás. A nostalgia romantiza as lembranças, fotos em sépia. Substituir essas lembranças infantis pela realidade talvez não fosse bom negócio.

Mas fui. Não havia muito tempo, poucas horas para rever algumas também poucas pessoas, mas suficientes para passar por todas as ruas (que nem eram tantas assim). Como esperado, as mudanças não foram muitas. O tempo trouxe alguma modernidade, é verdade. Hoje o asfalto cobre a maioria das ruas, mas são ainda as mesmas pessoas que passam por elas.

E digo as mesmas no sentido de que aquelas pessoas que outrora viviam ali não mudaram, são as mesmas e continuam iguais. Envelheceram um pouco, obviamente. No entanto, contam as mesmas histórias, as mesmas piadas, suas casas têm ainda o mesmo cheiro. Também as rugas que foram surgindo ao longo dos anos não tiveram o poder de alterar a fisionomia que eu ainda guardava na memória de criança.

Assim como eles se lembram ainda da história infantil de que eu mais gostava, quando entrava na sala com o mesmo livrinho - que já nem era necessário, já que a repetição fizera com que a história fosse memorizada - pedindo que me fosse contada.

E mesmo passados tantos anos sem que houvesse qualquer contato foi possível perceber que o carinho surgido daquelas relações jamais existiria em outro lugar. Não falo do lugar físico, das ruas que formam a cidade, mas do lugar que ocupei e ocupo ainda na vida e memória daquelas pessoas. Isso porque as cidades são, sim, visíveis. Os laços que as permeiam, contudo, não, esses não são.