Tenho uma facilidade incrível de me apaixonar por personagens. Uma cena de filme, novela, uma página de livro, uma foto, pouco é mais que suficiente pra sentir um frio na barriga. Às vezes, o personagem pode até estar bem próximo, ser aquele cara da sala, ou aquele outro que freqüenta os mesmos bares. Mas isso não faz com que deixem de ser personagens. Continuam irreais, idealizados (ou ideais), ilusórios.
Aí eu percebo o quanto tudo isso é patético e, ao invés de pôr os pés de volta no chão, fico fantasiando, cultivando esses sonhos bestas e me esqueço daqueles seres reais, paupáveis, compostos de matéria orgânica. Aqueles pra quem eu olho procurando apenas defeitos, imperfeições, sapatênis, regatas, vozes fracas, insegurança, qualquer motivo que justifique o não-apaixonamento e o refúgio no conforto do meu mundo imaginário, meu mundo das idéias, eu e Platão.
Culpa do universo que parece conspirar contra. Todas as músicas falam para algum "você", casais são imprescindíveis em todos os filmes e livros, o amor domina o mundo, a tv, o rádio. Mas será mesmo que todo mundo tem necessariamente um você em quem pensar? E se não tiver, o que fazer? Recorrer aos amores platônicos ou declarar guerra à Afrodite e os malditos partidários do romantismo que foderam a humanidade com o ideal de amor romântico?
Como diria Damien Rice, loving is good if your dick is made of wood.